School of Sufi Teaching

Escola de Ensinamento Sufi

Práticas Naqshbandi, Mujaddidi, Chishti, Qadiri e Shadhili

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Relato pessoal de um estudante do leste europeu

Eu sempre tive interesse pelas questões espirituais. Como cresci em um país católico na Europa, meus contatos com a vida religiosa eram naturais e inevitáveis. Fui criado no catolicismo e exposto a essa forma do cristianismo. Ainda criança, sentia-me atraído pelas vidas dos santos católicos e na escola primária fui coroinha. Os sacerdotes mentores das aulas de religião, entretanto, não pareciam ser pessoas de muita fé ou conhecimento. Para mim, grande parte de seus trabalhos era, quando muito, um tipo de assistência ao povo.

Com a adolescência veio o período rebelde e meu rompimento com o catolicismo, o que foi permanente. Durante anos meus interesses oscilaram entre estudar filosofia, religiões e viver a vida, buscando conhecer e entender quem eu era. Nos anos 70 tive contato com ensinamentos teosóficos e algumas de suas correntes, como as de Rudolf Steiner e Alice Bailey. Na época, o país estava quase totalmente destituído de literatura espiritual. Somente a leitura do cristianismo era permitida, ou talvez algo sobre budismo, zen e ioga. O regime comunista que dominou o país desde a segunda guerra mundial não permitia literaturas alternativas ou reuniões públicas desses grupos. Às vezes era possível encontrar pequenos grupos de estudo ou pessoas que tinham biblioteca particular ou algum meio de trazer livros (ou contrabandeá-los) do ocidente. Influenciado pelo que era disponível na Polônia na época, meus interesses inclinaram-se cada vez mais ao esotérico e ao místico – eu lia tudo que encontrava sobre esses temas.  

Quando viajei ao ocidente em 1980, primeiro à Inglaterra e depois minha mudança para a Austrália, muitas possibilidades abriram-se para mim. Além dos interesses que já tinha, envolvi-me profundamente com as idéias que permeavam o movimento New Age. Mas, apesar de todos os estudos de natureza intelectual que explorei, meu coração permanecia insatisfeito. Meu encanto com estudos teosóficos e o movimento New Age continuou – até que me deparei com o Sufismo.

Em meados dos anos 80 alguém me enviou um livro que me impressionou muito. Era “Journeys with a Sufi Master” de Idries Shah. Li mais livros deste autor e senti que havia encontrado o que queria. Quanto mais lia, mais eu me identificava com o Sufismo.

Entretanto, havia uma dificuldade: todos os livros Sufis que li diziam a mesma coisa – que nesse caminho é necessário ter um guia espiritual. Isto não condizia com as idéias da New Age, de que somos plenamente capazes de realizar tudo por conta própria sem ajuda externa, sem mencionar ajuda do Transcendente. Mas onde procurar um professor? Livros não vêm com professores, portanto tinha que procurar um ou aguardar. Dada minha natureza impaciente, optei pela busca.

Minha busca, contudo, só resultou em mais frustrações. Na busca pelos Sufis encontrei muitos grupos que se diziam ‘Sufi’, mas ao conhecê-los melhor, tornava-se claro que os membros do grupo comportavam-se previsivelmente como membros de um culto. Estes grupos geralmente seguiam algumas idéias típicas do movimento New Age que floresceu no século passado. Qual era o propósito de afiliar-me a outro culto New Age? Para mim, esses grupos eram obscuros e vagos – falavam todo o tempo sobre “religiões universais” e “ser espiritual”, ter um nome espiritual, vidas passadas, vegetarianismo e habitualmente exaltando seus fundadores e líderes. Notei também a falta total de aderência a princípios e normas ou seguimento de religiões estabelecidas – reconheço que no início gostei disso, mas por pouco tempo. Logo senti que eram muito vagos para o meu gosto e pouco a ver com o Sufismo verdadeiro.

Por quase dez anos busquei um guia espiritual vivo, de carne e osso, e não um mestre de teosofia misterioso que supostamente morava em alguma montanha remota. Esta busca foi realmente difícil. Obviamente eu fiquei muito empolgado quando soube, no início dos anos 90, que um professor Sufi visitaria Melbourne, Austrália, onde eu morava na época…

Conheci o Sheykh Hazrat Azad Rasool em Melbourne quando ele visitava seus estudantes australianos. Quando conheci o Sheykh eu já sabia alguma coisa sobre o Sufismo, ou melhor, achava que sabia. Eu tinha algum conhecimento obtido em livros de escritores populares de temas Sufis; era um conhecimento teórico e muito superficial – como vim a perceber logo depois. Naquela época eu também tinha muitos preconceitos: era arrogante, pretensioso e presunçoso quanto ao papel da espiritualidade, sem mencionar minhas idéias preconcebidas de como deveria ser um sheykh Sufi. 

Meu primeiro encontro com Hazrat não foi “amor à primeira vista” nem uma experiência formidável como as que eu havia lido na chamada literatura espiritual. O Sheykh não ‘me levou às alturas’, ele não me intrigou de nenhuma forma, nem expressou qualquer interesse especial por mim. O Sheykh não era um misterioso oriental que falava através de enigmas ou que aludia a coisas inefáveis. Ele era apenas um senhor normal e gentil que respondia às minhas perguntas; era uma pessoa comum, comum até demais. Ainda assim, tive a nítida impressão de que era um professor Sufi autêntico embora, talvez, não o meu professor.

Naquela época eu já havia programado uma viagem à América do Norte para conhecer alguns professores Sufis. Um pouco antes de partir, fui visitar o Sheykh mais uma vez. Ele me ensinou a meditar no primeiro centro sutil de consciência (ou latifa), e me deu uma transmissão (1). Eu não havia pedido isto, mas não me importei. Senti que a transmissão me afetou de alguma forma, mas não me dediquei com a devida assiduidade às práticas que ele me havia ensinado. Afinal de contas, eu estava procurando um “grande Sheykh Sufi” e não tinha a menor idéia que já o havia encontrado. 

No início de 1994 embarquei numa jornada, primeiro aos EUA e depois ao Canadá. Segundo a literatura popular Sufi que havia lido, os Sufis tinham uma ligação com o Islã, mas não ficou claro para mim qual era essa relação. Consequentemente estava procurando por um tipo de Sufismo mais universal – que não fosse islâmico (já que tinha pavor de qualquer religião, particularmente do Islã), mas que também não fosse do estilo New Age.

Meus primeiros encontros com “Sufis” nos EUA, entretanto, foram decepcionantes. Os professores Sufis que conheci careciam de autencidade; pelo menos foi essa a minha impressão. Como já estava bem familiarizado com muitas idéias e grupos New Age, identifiquei semelhanças com esses grupos em quase todas as entidades Sufis que conheci nos EUA. Havia muita conversa, mistura de psicologia moderna com terminologia oriental, meditação, tentativa de cura e, é claro, nada de religião. Os participantes atraídos àqueles grupos eram geralmente os tipos mais emotivos, com tendências intelectuais e se concentravam em um ou outro aspecto do Sufismo. Algumas dessas entidades eram meros cultos sincretistas que eu conhecia muito bem, do tipo que louvava todas as religiões, mas não seguia nenhuma.

Muitos desses professores Sufis pareciam não fazer nada de concreto para ganhar a vida. Todos diziam que o Sufismo era pré-islâmico e independente do Islã. Eles davam a impressão que o Sufismo era “bom demais” para ser Islâmico. Essa viagem de um ano possibilitou-me observar de perto como os ocidentais interpretam uma tradição oriental e quais os aspectos desta que mais lhe interessam. Todos os ensinamentos pareciam ser fragmentados – optavam por ignorar alguns aspectos do Sufismo da maneira que bem entendiam. Para mim isso não condizia com pessoas que costumavam pregar o “ser holístico”. Essa forma ocidental do Sufismo lembrou-me do estilo da Ioga ocidental, que consiste meramente em uma série de exercícios de alongamento muscular. Aqui, no caso do Sufismo, foi talvez mais um exemplo de alongamento mental e intelectual, mas sem muita essência.

Minha viagem aos EUA foi também um tipo de espelho que refletia a caricatura de minhas próprias idéias e preconceitos sobre o Sufismo. Um ano depois regressei a Melbourne decepcionado, desmotivado e talvez um pouco humilhado.

Alguns meses após retornar a Melbourne, o organizador do grupo da Escola de Ensinamento Sufi convidou-me novamente para o grupo de meditação, e disse que o Sheykh visitaria Melbourne brevemente. Recebi um folheto com perguntas e respostas do Sheykh. Fiquei impressionado com o que li, e pude avaliar melhor seus ensinamentos. Suas respostas eram muito sensatas e surpreendentemente simples. O conteúdo do folheto entrou em sintonia comigo e decidi visitar o Sheykh novamente visando aprender mais.

Logo depois, fui vê-lo novamente. O Sheykh cumprimentou-me com sua habitual gentileza, demonstrando interesse nas minhas experiências no exterior. Desta vez eu estava mais humilde e mais aberto ao Sheykh e a todas as possibilidades inerentes à reunião. Expressei meu desejo de praticar mais e o Sheykh me deu mais exercícios e transmissões1.

A segunda ou terceira meditação com o Sheykh foi, para minha surpresa, uma experiência transformadora. A transmissão afetou-me muito além do que esperava. Logo após a experiência, pedi ao Sheykh que me aceitasse como seu estudante. Tornei-me um murid, um pupilo no caminho Sufi.

O que era essa conscientização cada vez maior da transformação interna que os ensinamentos do Sheykh me despertava? Pode-se também questionar que tipo de experiência muda o curso da vida humana? Descrever o processo de transformação interna2 não é somente difícil, mas tais descrições talvez sirvam somente para distorcer suas profundezas, trivializá-las e torná-las objeto de ridicularização dos cínicos. Entretanto, por mais que eu fale dessas experiências, uma coisa que devo dizer é que vivenciei algo real e profundo. Algo que deu outro rumo à minha vida.

A primeira coisa que percebi é que havia vivido quase 40 anos em função do meu próprio ego, meu nafs, mas queria agora passar minha vida [para] e no caminho do meu Senhor, e não mais satisfazer as constantes exigências e caprichos do meu nafs.

As experiências da realidade variam tanto quanto o número de pessoas no mundo. A graça divina pode se manifestar de mil formas. O estudante do Sufismo aprende logo que não deve revelar suas experiências internas, já que essas são sempre diferentes em cada pessoa. Falar sobre elas é, de certo modo, influenciar o ouvinte e criar nele a expectativa de experiências semelhantes. Só que duas experiências jamais são iguais. Todos nós somos seres únicos e nossa experiência de Deus também é única. Conquanto um Sufi possa estar interiormente “embriagado”, externamente ele está sóbrio. Mesmo sendo capazes de conhecer e entender o estado interior uns dos outros, externamente os Sufis jamais declarariam esse conhecimento, salvo em raríssimas circunstâncias. Eles preferem não chamar atenção para si próprios, demonstrando evidência de estados ou poderes interiores que não estão acessíveis a outras pessoas.

No caminho Sufi o estudante pode revelar suas experiências internas, visões e sonhos somente ao seu guia espiritual. E somente seu Sheykh pode entender e interpretar essas experiências.

O efeito imediato da minha experiência transformadora foi o conhecimento da relação entre Islã e Sufismo, que ficou clara e até óbvia. Eu senti que a gnose islâmica (irfan) abriu-se perante mim. O significado do Corão e os escritos dos clássicos Sufis ficaram mais claros e mais compreensíveis. Tive também a impressão de que podia acessar, por meios difíceis de serem explicados, a riqueza imensurável da gnose Sufi – a Gnose Divina que somente uma corrente sagrada ou Silsila (corrente de transmissão de professores) pode propocionar. Senti-me ligado a esta corrente de grandes santos da Naqshbandi e outras linhagens Sufi, as quais sempre convergem em determinado ponto.

A alquimia que estudei durante anos tornara-se agora uma realidade muito além de uma imagem vazia ou um símbolo. Posso de fato atestar que na presença do enxofre vermelho, o Sheykh, essa transmutação é eminentemente possível. A transformação acontece tão-somente por intermédio de um “agente” ou algo que é mais elevado, maior e transcendente em relação à coisa a ser transformada, sem o qual a coisa permanecerá inalterada para sempre. Semelhantemente, para os aspirantes da verdade, a verdadeira ajuda somente pode vir de alguém que já tenha chegado ao fim da jornada.

Outro efeito da transformação foi conhecer melhor minhas próprias limitações, imperfeições e falhas. Eu finalmente entendi porque é necessário ter um guia no Caminho. Penso ser apropriado ressaltar aqui alguns pontos sobre o fenômeno chamado “New Age”. Seus proponentes afirmam que o ser humano pode recobrar seu potencial e conquistar tudo por si próprio. O homem, por conseguinte, tornou-se sua própria autoridade e seu ego (nafs) tornou-se seu “deus”. Não é raro nestes círculos ouvir frases como “Somos todos Deuses”. Mas ao rejeitar o Deus Transcendente Único eles rompem o relacionamento com a verdadeira manifestação imanente de Deus no homem. O homem do movimento New Age, portanto, vê-se em um beco sem saída, preso em sua ideologia – limitada e limitante.

A pessoa que tenta se erguer puxando o próprio cabelo realiza um feito heróico, mas impossível. O ego humano não pode se transformar além de suas limitações. O ego de uma pessoa também não pode, atuando em outro, produzir resultados nem transformar a pessoa em sua totalidade (ego e tudo mais que forma o homem). Mas o movimento New Age é obcecado por temas e possibilidades do ego e nada mais. Embora chamem isso de atividade “espiritual” ou “transpessoal”, continuam confinados ao ego.

Estas constatações ocorreram quando minha transformação pessoal me fez perceber as imensas possibilidades disponíveis para o ser humano quando ele avança além do ego. Aprendi que o movimento New Age, assim como os supostos grupos místicos que participei durante anos, é uma forma degenerada do verdadeiro misticismo. Todos os cultos místicos ou sincretistas, atualmente abundantes, tentam imitar os caminhos místicos originais. Mas quando a pessoa tenta seguir essas imitações, não é conduzida a parte alguma.

Todos os Profetas e muitos santos de todas as religiões – ou seja, homens de Deus – possuíam determinados poderes, mas estes poderes jamais se originaram do lado material da vida, da forma ou de seus egos; originaram-se do Eu Divino. Os Sufis são geralmente associados a poderes extraordinários como a telepatia, translocação, capacidade de prever o futuro, desmaterialização, cura, etc., mas os Sufis são os primeiros a admitir que tais poderes são manifestações da Vontade Divina, e não deles. Essas são dádivas divinas e não algo trivial como poderes obtidos da prática de alguns exercícios. Todas as tentativas conscientes e deliberadas de obter tais poderes são nada mais do que tentativas de imitação dos poderes divinos ou usurpação para ser divino. O desejo de obter esses poderes emana do ego e desenvolvê-los deliberadamente também visa fortalecer o ego, ampliando assim a separação entre o homem e o Divino.

As experiências ulteriores que tive no caminho Sufi somente confirmaram a eficácia e a autenticidade do Sheykh. Pelo menos no meu caso, muitas das minhas experiências verteram-se ao aspecto moral de estar no caminho. Aqui percebi algo diferente entre a versão ocidental do Sufismo que havia estudado até certo ponto, seja da Europa ou da Califórnia, onde, como nos grupos New Age, todos são livres para criar suas próprias regras de vida. O Sheykh jamais transigiu nos aspectos morais da vida do estudante. Somos todos intimados a trabalhar, assumir responsabilidades por nossas famílias e viver na sociedade sem negligenciar nossas obrigações diárias, mas ao mesmo tempo alocar tempo para a prática diária – estar no mundo, mas não ser dele, segundo as normas Sufis. O mundo pode ser melhor à medida que nos tornamos pessoas melhores. Alguns Sufis chegaram ao ponto de dizer que Sufismo é apenas um sistema de moralidade3.

Mesmo seguindo o que os ocidentais adeptos da liberdade consideram como regras restritas de conduta, o Sheykh é uma pessoa extremamente modesta, gentil, alegre e paciente. Jamais o vi repreender ou criticar qualquer pessoa, e quando queria transmitir um ensinamento, ele usava uma estória ou parábola para ilustrar o caso sem confrontar a pessoa em questão. O caminho Sufi é sutil, mas eficaz.

Nas minhas visitas subsequentes ao Sheykh em sua residência na Índia, obtive mais conhecimento e maior dimensão do que é de fato o Sufismo. Os Sufis na Índia, ao contrário de outros países muçulmanos, são muito respeitados não somente por muçulmanos, mas também por seguidores de outras religiões. Os dergas, locais de sepultamento dos grandes santos Sufis, florescem com vida e são visitados diariamente por milhares de pessoas de todos os segmentos e religiões. Lá observamos muçulmanos, hindus, sikhs e, esporadicamente, alguns ocidentais curiosos – as diferenças religiosas e raciais não têm importância quando se visita o túmulo de um santo Sufi.

Durante as visitas de grupos ao khaneqa do Sheykh (centro Sufi) na Índia, todos os estudantes do grupo sentem que o Sheykh os ama realmente como um pai. Além da hospitalidade, o Sheykh transmite uma sensação de segurança e proteção; proteção esta que é física e principalmente espiritual.

Em todo o tempo que conheço o Sheykh, percebi que nunca houve questões relacionadas a dinheiro. O ensinamento era gratuito e, mesmo pela hospedagem na khaneqa, não havia menção de pagamento além da sadaqa islâmica ou ofertas voluntárias. O Sheykh nunca pediu dinheiro a ninguém, de fato nunca pediu nada. Segundo o costume dos Sufis, os Sheykhs vivem de seu trabalho e não do trabalho de seus estudantes. Um dia comentei com o Sheykh que ele havia construído a khaneqa muito rápido. O Sheykh sorriu e disse que na verdade levou 25 anos para construí-la e que não teve nenhum patrocinador. Ele somente pediu e rezou a Deus por ajuda. E a ajuda foi concedida, devagar e sempre.

Outra coisa que percebi sobre o Sheykh é que nunca procura pessoas ou estudantes novos, e sempre ressalta que a meta do Sufismo, pelo menos o que ele ensina, é despertar a pessoa para a presença e intimidade de Deus. O Sufismo não é um movimento e poucos se encantam por ele – e uma quantidade ainda menor chega ao final da jornada. Havia uma ausência óbvia e perceptível de qualquer espírito missionário ou proselitismo quando eu estava com o Sheykh.

Tendo em mente o número cada vez maior de estudantes ocidentais, o Sheykh, com o consentimento de seu Sheykh, estabeleceu o Instituto de Busca da Verdade baseado e em funcionamento como uma Tariqa Sufi tradicional. Comentando sobre o papel do Sufismo nos dias de hoje, o Sheykh enfatiza que os Sufis não são monges contemplativos trancados em mosteiros. Um Sufi está sempre presente no mundo ou, para ser mais preciso, presente nos dois mundos, tentando harmonizar o externo com o interno. A meta de todo ser humano é tornar-se um ser completo, o insani kamil, ou o homem perfeito.

Historicamente, os Sufis sempre tentaram criar as condições ideais para o desenvolvimento espiritual do homem e seu retorno ao seu Criador. O Sheykh Hazrat Azad Rasool, apesar de sua idade avançada, tenta visitar seus grupos na Europa, América e Austrália pelo menos uma vez por ano. Nessas visitas o Sheykh passa horas em conversas particulares com seus estudantes e também recebe muitos aspirantes novos. Ele não dá palestras, nem tenta reunir multidões, mas de alguma forma consegue afetar as pessoas que se encontram com ele através de sua presença e seu ser interior.

O treinamento espiritual com o Sheykh é prático e empírico. Não há teorias para se acreditar, nenhuma recomendação de leituras, e nem ponderações intelectuais. Quando a pessoa decide seguir as práticas, a expectativa é que serão realizadas com toda a sinceridade; caso contrário, as práticas preliminares não terão efeito. Durante anos venho observando muitas pessoas que escolhem como sua preocupação principal uma constante vitrine no mercado espiritual, sem nunca se envolverem seriamente em nenhuma tradição. Os Sufis sempre enfatizaram que para chegar até a água profunda, a pessoa tem de cavar em um único lugar; do contrário, fará muitos buracos rasos, mas jamais encontrará água. Os Sufis dizem que “não se pode navegar em dois barcos ao mesmo tempo”.

Gostaria de terminar este breve relato em tom otimista e com palavras animadoras a todos que buscam a verdade. Atualmente, neste mundo de mudanças rápidas, cheio de ansiedade, inquietação e insegurança, EXISTE treinamento espiritual autêntico, como sempre existiu. Se orar com toda sinceridade e desejar de todo coração, a pessoa pode receber o privilégio de encontrar um guia espiritual autêntico que poderá nos conduzir ao fim da jornada.


(1) A transmissão é um processo no qual o Sheykh afeta o estudante com seu estado interior.
(2) O processo de transformação é muito semelhante ao processo alquímico de transmutação do metal básico em ouro na presença do enxofre vermelho. A analogia não é apenas simbólica, mas real. Na presença do Sheykh, e por intermédio da Graça Divina, um homem é erguido do seu estado de prostação a uma posição que é sua por direito e seu destino verdadeiro. Tudo é sempre a vontade de Deus e o trabalho de Deus. O homem é apenas um instrumento.
(3) Devemos diferenciar a verdadeira moralidade espiritual da chamada moralização.

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